Clipping – “As princesas que reinam nas artes“

As princesas de Cida Carneiro

por Welliton Carlos

A artista Cida Carneiro reuniu 30 pinturas e desenhos que enfocam uma figura emblemática do conto de fadas: as exuberantes princesas. A exposição que apresenta ao público é polissêmica: uma provocação e também um convite para meninas se deleitarem nesta releitura que mexe com a imaginação e o universo infantil das crianças que habitam até mesmo os adultos.

Na arte, a polissemia é tudo: comunica-se mais de uma informação, dando ao espectador maior liberdade de entendimento.

Daí a oportunidade de observar as princesas e se questionar o que se vê, de fato, na expressão de cada uma. Crianças terão uma leitura (ponto,virgula) adultos outra completamente diferente. As adultas mulheres, então, realizam uma viagem que perpassa a cultura, a civilização, o enquadramento dos costumes e dos hábitos.

Nos geral, a posição da artista é positiva em sentido de afastar o pessimismo da condição da mulher: o empoderamento das princesas, símbolo de sua força em muitos contos, atravessa a condição feminina e revela uma realidade em que a mulher pode ser sensual (e bela) e realmente poderosa, no sentido administrativo e de posição social.

A mostra `Memórias do Feminino` está em cartaz desde quinta-feira, 26, na Vila Cultural Cora Coralina (ao lado do Teatro Goiânia). O próprio nome da exposição já indica a orientação de Cida: resgatar as reminiscências de algo que é quase natural das meninas ocidentais quando são inseridas no contexto da sociedade de consumo.

Coube aos capitalistas da indústria cultural dar uma nova conotação para as princesas, as distanciando da imagem plasmada nas eras da Revolução Francesa, quando muitas perderam literalmente as cabeças diante da desfaçatez da miséria e da fome. Nos tempos modernos, elas se transformaram em heroínas e ganharam simpatia.

Com formação em Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás (UFG), Cida Carneiro tem atuado em fotografia, design e moda.

Sua arte é figurativa e bem humorada: as criações dialogam com o formato cartoon e daí a referência com a art pop acaba quase que natural.

A diferença é que as princesas de Cida Carneiro misturam coroas e tatuagens, minissaias e babados. Eis o choque informacional, Cida evita a redundância.

A ideia do cartoon a liberta de grandes exigências, como os debates chatos sobre realismos e universalidades temáticas. As princesas da artista goiana não estão nem na coluna das criações da Disney nem no formato contemporâneo e pragmático que nos foi legado por Lady Di. São princesas artísticas.

A aristocracia e a filantropia – além de outros adjetivos comuns ao universo chique das donzelas que acompanham o reinado de seus maridos, de olho no posto de rainhas – passam longe da visão de Cida.